Imagine a física como o alicerce firme e sólido no qual se deposita o conhecimento científico acumulado para explicar o mundo racionalmente. Sem ela não há como compreender fenômenos naturais como a luz, o som, o calor, a eletricidade e o movimento dos objetos, muito menos explicar do que a realidade é feita ou como o cérebro funciona. Numa simplificação, pense na relação entre as ciências basilares desta forma:
Repare que a física fornece subsídios para as demais ciências criarem suas teorias. Ou seja, a menor das mudanças dos seus paradigmas afeta diretamente a compreensão científica da realidade, e pode resultar numa revisão conceitual, quiçá experimental, de entendimentos consolidados doutras áreas.
No começo do século XX, enquanto a comunidade científica vibrava com suas descobertas e aguardava ansiosa a conclusão do “grande livro da física”, novas descobertas, baseadas nos trabalhos de Max Planck, Albert Einstein e Werner Heisenberg, começaram a surgir e forçar uma mudança radical no pensamento vigente. Era o nascimento da teoria quântica, a causadora de uma hecatombe nos alicerces científicos e filosóficos até então vigentes, que trouxe implicações "surreais" sobre o universo.1
Enquanto alguns físicos começaram a suspeitar que algo além da física estaria para ser descoberto, outros perceberam a necessidade de estabelecer postulados práticos que possibilitassem a utilização das novas descobertas para o aprimoramento tecnológico e científico, sem maiores divagações filosóficas sobre o assunto. Foi assim que surgiu a criticada Interpretação de Copenhaga, ou, como relatos sugerem, o “cale a boca e calcule!”. Mas nada seria como antes, e as novas descobertas aproximaram a física do questionamento sobre o que é a consciência humana.
As possíveis implicações da teoria quântica serviram para ensinar humildade porque elas demonstraram que o universo é muito mais complexo do que podemos imaginar, com segredos possivelmente indecifráveis para nossa ciência objetiva.
Ela também demonstrou a incompletude da física para criar a "teoria de tudo", ao menos até que ela abarque o estudo da consciência, suas implicações e experimentações. Esse é o "esqueleto no armário da física", o paradoxo da medição quântica que aponta para possibilidade de um observador influenciar a determinação de um sistema quântico, ou seja, de que as escolhas cocriem o universo, de modo que o suposto determinismo e/ou indeterminismo físico estão sujeitos, de alguma forma, à ação humana.2
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*Última revisão: 29/03/2024.
1 Segundo Bruce Rosenblum e Fred Kuttner, “A teoria quântica nos diz que a observação de um objeto pode influenciar instantaneamente o comportamento de outro objeto a uma enorme distância – mesmo que não haja força física ligando os dois. São as influências que Einstein rejeitou como “ações fantasmagóricas”, mas que agora foi demonstrado que existem. A teoria quântica também nos diz que um objeto pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Sua existência num lugar determinado onde é encontrado torna-se realidade apenas com sua observação. A teoria quântica nega a existência de um mundo fisicamente real independente da sua observação.” - KUTTNER, Fred, ROSENBLUM, Bruce. O enigma quântico: o encontro da física com a consciência. Rio de Janeiro: Zahar, 2017. Tradução de George Schlesinger; revisão técnica Alexandre Cherman.
2Pode-se fugir do enigma quântico negando que seja significativo até mesmo considerar experimentos que não foram de fato feitos, e alegar que a percepção consciente de que poderíamos tê-los feito não tem sentido. Tal negação do livre-arbítrio vai além da noção de que aquilo que escolhemos fazer é determinado pela eletroquímica do nosso cérebro. A negação requerida implica um mundo completamente determinista e conspiratório, um mundo no qual as nossas escolhas supostamente livres são programadas de modo a coincidir com uma situação física externa. Se isso fosse verdade, não teria sentido falar no que poderíamos ter escolhido fazer. Essa postura para fugir do enigma quântico é uma negação da “determinação contrafactual”
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REFERÊNCIAS