CONSCIÊNCIA ALÉM DA MATÉRIA



O cérebro produz a mente, como a vaca produz leite, ou são coisas diferentes? Será que um dia, em algum laboratório do mundo, uma inteligência artificial (IA) criará consciência? Afinal de contas, o que é a consciência?

Dizer que o cérebro produz a mente significa argumentar que a matéria organizada desta ou daquela forma é capaz de cheirar, degustar, escutar, tatear e ver, ou seja, que ela é capaz de sentir. Segundo essa corrente, é possível e razoável esperar por uma consciência artificial à medida que a neurociência evolua. Entretanto, essa linha de raciocínio não passa de uma hipótese jamais provada, e não há meios de assegurar que um computador realmente sinta alguma coisa.

Caro leitor, perceba que saber se uma I.A. criará consciência um dia não é uma pergunta simples, mas complexa e interdisciplinar porque o próprio conceito de consciência está em constante mudança. Embora seja possível criar robôs similares, quiçá idênticos, a seres humanos, fazendo-os falar e se comportar para demonstrar humanidade, isso não significa que eles sintam algo. Por enquanto, e possivelmente por muito tempo, a única forma de se ter certeza de um indivíduo possuir consciência é se ele for produzido por um aparelho reprodutor feminino devidamente fecundado, e isso baseado na nossa expectativa de que tais seres sentirão as mesmas coisas que nós mesmos.

Ou seja, também não é possível dizer com precisão matemática se outro ser é capaz de sentir algo, já que não existe um aparelho capaz de medir sensações. Tudo que se pode fazer é medir as reações observadas num organismo e assumir que elas correspondem a esta ou aquela sensação que nós mesmos já tivemos. Portanto, a consciência parece surgir de algo diferente, um fenômeno que escapa a tudo que é material, como o argumento do conhecimento, proposto por Frank Jackson, demonstra:


Jackson nos pede que imaginemos o Caso de Mary, uma neurocientista que vive no futuro distante, quando teremos um conhecimento completo dos detalhes da estrutura e do funcionamento do sistema nervoso. Mary está numa situação singular de ter vivido toda a vida em um espaço preto e branco, interagindo com o mundo exterior por meio de um monitor de televisão preto e branco. Portanto, ela nunca teve nenhuma experiência de cor (podemos até imaginar que ela sempre usou um terno que cobre todo o seu corpo e que a impediu de ver a cor de sua pele e de seu cabelo, etc.). Nessa sala ela dominou a ciência do cérebro e, em particular, adquiriu um conhecimento profundo da física e da fisiologia da percepção das cores.

Ela nunca viu a cor vermelha, mas sabe exatamente o que acontece nos olhos, no sistema nervoso e na superfície do objeto, isto é, todos os fatos físicos que há para saber sobre a percepção da cor. Agora vamos imaginar que um dia Mary tenha permissão para sair do quarto e, quando é liberada, lhe é mostrada uma maçã vermelha ao vivo pela primeira vez. Ela aprende alguma coisa com esta experiência? Certamente que sim: ela vai aprender o que é ver vermelho, e o que isso mostra, de acordo com o argumento, é que o materialismo é falso.

O raciocínio é o seguinte: o materialismo afirma que os fatos físicos da percepção e afins são todos os fatos que existem: Mary sabia todos os fatos físicos que havia para saber hipoteticamente da percepção (os tipos de fatos descritos em livros didáticos de neurociência ou transmitidos em palestras pelo monitor); no entanto, ela não sabia todos os fatos que havia para saber da percepção, porque ela aprendeu algo novo sobre isso ao sair da sala (e não se pode aprender algo que já se saiba); então, o que ela aprende deve ser um fato não físico: mais especificamente, o conhecimento dos qualia [...]1


Pois bem, o argumento do conhecimento demonstra a falsidade do materialismo e a existência da subjetividade, não por demonstrar que o vermelho “seja” alguma coisa, mas porque há um “é”.



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REFERÊNCIAS


Filosofia da mente: um guia para iniciantes/ Edward Feser; tradutor Henrique Leite. – Formosa, GO: Edições Santo Tomás, 2019

1Filosofia da mente: um guia para iniciantes/ Edward Feser; tradutor Henrique Leite. – Formosa, GO: Edições Santo Tomás, 2019, pág 106 e 107

José Lucas Steinmetz

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