Segundo o espiritismo, a melhor forma de melhorar a si mesmo nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal é conhecer a si mesmo. Por isso, Santo Agostinho deixou o seguinte conselho a Kardec durante a codificação espírita:
Fazei o que eu fazia de minha vida sobre a Terra: ao fim da jornada, eu interrogava minha consciência, passava em revista o que fizera e me perguntava se não faltara algum dever, se ninguém tinha nada a se lamentar de mim. Foi, assim, que consegui me conhecer e ver o que havia para reformar em mim. Aquele que, cada noite, lembrasse todas as ações da jornada e se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião para esclarecê-lo, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Questionai, portanto, e perguntai-vos o que fizestes e com qual objetivo agistes em tal circunstância; se fizestes alguma coisa que censurais em outrem; se fizestes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai-vos ainda isto: se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, reentrando no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, eu teria o que temer diante de alguém? Examinai o que podeis ter feito contra Deus, contra vosso próximo, e enfim, contra vós mesmos. As respostas serão um repouso para vossa consciência ou a indicação de um mal que é preciso curar.O conhecimento de si mesmo, portanto, é a chave do progresso individual. Mas, direis, como se julgar? Não se tem a ilusão do amor-próprio que ameniza as faltas e as desculpa? O avarento se crê simplesmente econômico e previdente; o orgulhoso crê não haver senão a dignidade. Isso é verdade, mas tendes um meio de controle que não pode vos enganar. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a qualificaríeis se fosse feita por outra pessoa; se a censurais em outrem, ela não poderia ser mais legítima em vós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça. Procurais saber também o que pensam os outros a respeito, e não negligencieis a opinião dos vossos inimigos, porque estes não têm nenhum interesse em dissimular a verdade e, frequentemente, Deus os coloca ao vosso lado como um espelho para advertir-vos com mais franqueza que o faria um amigo. Que aquele que tem vontade séria de melhorar-se explore, pois, sua consciência, a fim de arrancar dela as más tendências, como arranca as más ervas do seu jardim; que faça o balanço de sua jornada moral, como o mercador faz de suas perdas e lucros, e eu vos asseguro que a um lhe resultará mais que a outro. Se ele puder dizer que sua jornada foi boa, pode dormir em paz e esperar, sem receio, o despertar de uma outra vida.Colocai, pois, questões claras e precisas e não temais de as multiplicar: podem se dar alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o objetivo de amontoar o que vos dê repouso na velhice? Esse repouso não é o objeto de todos os vossos desejos, o alvo que vos faz suportar as fadigas e as privações momentâneas? Pois bem! O que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas enfermidades do corpo, ao lado daquele que espera o homem de bem? Isso não vale a pena de fazer algum esforço? Sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro incerto; ora, eis aí precisamente o pensamento que estamos encarregados de destruir em vós, porque desejamos fazer-vos compreender esse futuro de maneira que ele não possa deixar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso, primeiro chamamos vossa atenção para fenômenos de natureza a impressionar vossos sentidos, depois vos demos instruções que cada um de vós se acha encarregado de divulgar. Foi com esse objetivo que ditamos o Livro dos Espíritos.1
Pela mensagem recebido de Santo Agostinho se observa que o espiritismo é uma ferramenta para a humanidade se livrar de suas imperfeições morais, e antes de ser cristã ou espiritualista, carrega consigo a mesma mensagem que filósofos antigos repetem há milênios: conheça-te a ti mesmo.
1 O livro dos espíritos, questão 919 (páginas 319/320 do livro referência).
LIVROS RECOMENDADOS
https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2014/05/Livro-dos-Espiritos.pdf
REFERÊNCIAS
O Livro dos Espíritos / Allan Kardec; tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 183ª edição, 2021
1 O livro dos espíritos, questão 919 (páginas 319/320 do livro referência).